Aqui onde eu moro está excessivamente frio, para todos, um clima horroroso, chuva, vento, aquele friozinho horrível nos lábios, que nos faz lambê-los à toda hora, mas para mim, não existe época melhor.
O frio e o ar livre são as maiores características de leitura para um bom livro, mesmo morrendo de tanto congelar, não hesito ao pegar minhas cobertas e ler na grama, pois não existe melhor local para fazer isso, ouvindo o canto dos passarinhos, o som das folhas batendo e do mensageiro dos ventos, doce e metálico.
Sim, sei que você está pensando "mas o que isso tem a ver com resumo de livros?". Surpreendo-lhe ao dizer "tudo". O inverno, além de ser a melhor época para ler, é a melhor época para comprar livros, pois é mais ou menos quando saem todas as continuações e lançamentos de livros divinos, isso digo por conta própria.
Não estava conseguindo ler direito nos últimos dias, pois sabia que uma encomenda nova de livros estava para chegar aqui, como presente de aniversário, e minha frustração ia crescendo pela demora, tirando minha concentração, mas agora os livros chegaram, e já tenho conteúdo novo para essa postagem.
A obra de hoje chama-se Calafrio, da escritora Maggie Stiefvater. Afirmo com toda a certeza, Calafrio é um dos melhores livros sobrenaturais que já li. Agora você diz "mas eu odeio sobrenatural" e eu respondo para que não desista do livro logo agora, você há de se surpreender, assim como eu.
Quando as pessoas pensam em sobrenatural, logo imaginam Crepúsculo, mas o livro não tem relação alguma com a obra de Stephanie Mayer ( que eu não gosto, por sinal), mesmo que o The New York Times tenha feito a seguinte crítica de Calafrio:
" Se você é fã de Crepúsculo, vai amar Calafrio" - The Observer
Muito bem, agora digo: não, não sou fã de Crepúsculo, aliás, não gosto nem um pouco. Sim, muitos vão julgar-me, dizer que fui influenciada pelas massas odiadoras de Crepúsculo, mas digo que não. Antes mesmo da série virar moda, eu li o primeiro livro e o segundo ( Lua Nova), e não me surpreendi nem um pouco, achei realmente monótono, um livro que não diz nada, não conta nada. Mas como meu objetivo não é criticar essa tão amada saga pelo mundo, vou voltar a falar de Calafrio.
Apenas para constar que se você não gosta de Crepúsculo, não desista de ler Calafrio.
Bem, esse livro veio na minha última remessa de livros, mais ou menos em Agosto do ano passado, e juro, nessa remessa conquistei um horrível dedo podre e só selecionei livros ruins, por sorte, consegui alguns muito bons também, como este.
Admito, comprei o livro pela capa, e aconselho que não façam isso, principalmente quando estão comprando pela Internet, pois nessa época eu não almejava por nenhum livro em específico e fui escolhendo-os pela capa e pelo gênero, no caso, sobrenatural, estilo pelo qual eu estava fissurada na época.
A capa é muito bonita, de uma interpretação interessante, e só por ela, já pude perceber que era um livro misterioso e passado em lugar de neve, que, como escritora, admito que são os lugares mais gostoso para se fazer uma narrativa: na neve. Muitas coisas podem acontecer na neve, por isso é tão bom escrever em seu cenário.
Andei pesquisando sobre a saga desse livro, chamada de Lobos de Mercy Falls, e vi que a série tem outro tipo de capa diferente, não sei se o livro é o mesmo, mas o que eu li ( e achei ótimo, por sinal), é o da capa abaixo.
Iremos ao resumo.
O livro conta a história de Grace, uma jovem de dezessete anos que tem uma vida normal, estuda, tem alguns amigos no colégio, sustenta um semblante comum de adolescente, mas ela esconde um terrível segredo, havia muitos anos. Quando Gracie tinha onze anos, foi atacada por lobos que viviam no bosque em frente à sua casa, e só não foi morta por eles porque um dos lobos, cinzento e com peculiares olhos amarelos, como mel aquecido, salvou-a da morte.
Desde esse primeiro contato, em todos os Invernos Grace via seu lobo esperar-lhe, observar-lhe do bosque, mas sem nunca se aproximar. Ela estranhava o fato do grande animal aparecer em todos os invernos e ficar sustentando seu olhar com aquele peso amarelo, mas o mais estranho era que ele sumia completamente no verão e primavera.
" Nunca tive medo dele. Era grande o bastante para me arrancar do balanço, forte o bastante para me derrubar no chão e me arrastar para o bosque. Mas a ferocidade de seu corpo não existia em seus olhos. Eu me lembrava do seu olhar, de cada tom de amarelo, e não podia ter medo. Sabia que ele não me faria mal. (...) E assim tudo continuou igual, por seis anos: a presença alarmante dos lobos no inverno, e sua mais alarmante ausência no verão. Eu realmente não pensava no tempo. Pensava que eram lobos. Apenas lobos."
Grace sustentava aquele segredo desde o ataque, mas quando um dos seus colegas de escola, Jack, é atacado por lobos, Grace se vê apavorada, lembrando-se do que acontecera com ela mesma naquela época, mas o mais amedrontador é quando ela vê Jack, ou melhor, um lobo, como os que a atacaram, mas que possuía os olhos de Jack.
... " Eu poderia ter gritado, mas não gritei. Poderia ter lutado, mas não lutei. Só fiquei lá, deitada e deixei acontecer, observando o céu branco de inverno tornar-se cinza acima de mim.
Um lobo me cutucou a mão e a bochecha com o focinho, projetando uma sombra sobre meu rosto. Seus olhos amarelos penetraram nos meus enquanto os outros lobos me sacudiam por todos os lados.(...) Não havia sol, não havia luz, e eu estava morrendo. Não conseguia me lembrar de como era a cor do céu. Mas eu não morri, estava perdida no mar de frio, e depois renasci em um mundo de calor.
Me lembro apenas disso: seus olhos amarelos.
Achei que nunca mais fosse vê-los"
Naquela mesma época, a cidade, em instinto de vingança pela morte do rapaz, planeja alvejar os lobos do bosque, e na noite do ataque, um rapaz aparece na casa de Grace, nu, atordoado, mas ela logo reconhece seu lobo, pois os olhos amarelos eram os mesmos.
Em pouco tempo, Grace se vê imersa no mundo dos lobos, enquanto conhece Sam, seu lobo, que conta-lhe toda a história de sua transformação: uma pessoa vira lobisomem quando é mordida por um, no calor, eles voltam a ser humanos, no frio, viram lobos, com pensamento irracionais e instintivos, mas com o passar do tempo e com a queda de temperatura, os lobisomens param de virar humanos, até que passam a ser apenas lobos comuns. Sam sente que aquele era seu último ano como homem, e logo voltaria a ser lobo, para todo o sempre, a ideia não lhe parece tão repulsiva, mas logo torna-se inaceitável, pois Grace apaixona-se perdidamente por seu lobo, e ele também.
(...)" Na penumbra, pude perceber sua expressão triste ao enfrentar o território proibido do colchão. Eu não sabia se achava charmosa sua relutância em partilhar a cama com uma garota ou um insulto, por, aparentemente, não ser atraente o bastante para que ele não investisse como um touro no colchão"
Em meio ao romance, ambos precisam conseguir um modo de impedir Sam de voltar a ser lobo, e descobrir quem na verdade é Grace, que lembrava-se de ter sido mordida quando foi atacada, seis anos atrás. O mistério envolvente, cercado por romance, dúvidas e perdas, faz de Calafrio uma história tão fantástica, daquelas que nos faz ler rapidamente.
(...) "Seus olhos seguiram minha mão, do seu ombro ao meu colo, e eu a vi também engolir em seco. A pergunta óbvia - quando me transformaria de novo - pendia entre nós, mas nem eu nem ela colocava-a em palavras. Eu ainda não estava pronto para lhe dizer. Meu peito doía, em pensar em deixar tudo aquilo para trás."
Como percebe-se pelas passagens, o livro é todo descrito em primeira pessoa, mas com personagens diferentes, em alguns momentos, é narrado pelo ponto de vista de Grace, em outros, pelo de Sam, tanto em forma de lobo como de humano. O que me chamou realmente a atenção nessa obra foi a nuance dos detalhes que a autora acrescentou, fazendo-os parecer tão sutis mas tão necessários ao mesmo tempo, como a descrição de cheiros, sabores, texturas e temperaturas, que me fez entrar completamente no enredo e floresta de Mercy Falls, sentir realmente o frio sepulcral das transformações que acometiam os lobisomens quanto aos odores, tão bem exemplificados.
O livro é realmente muito bom, li-o em um dia ( comecei em uma tarde e terminei na outra), e no momento em que abri a primeira página, vi que não conseguiria pará-lo até descobrir o fim da história de amor, que é realmente interessante, não melosa ou intrigante como em outros livros, focado principalmente no assunto "lobo", não nos momentos afetivos do casal, que, embora poucos, são muito bem feitos. Todos os personagens tem um fundamento, não existe um só personagem que apareça para ser descartado, além de contar com uma pequena seleção dos mesmos, fazendo tudo ficar mais envolvente e fácil de compreender.
Calafrio é delicioso, maravilhoso para o Inverno, para ler-se sob as cobertas.
Esse eu já li, e aprovei.